Revista Veja de Janeiro de 2001: Elas amam o vilão

Revista Veja em 17 de Janeiro de 2001 fala sobre mulheres que se interessam por psicopatas assassinos.

O que faz uma mulher largar tudo em troca do amor de um homem condenado à morte

Revista Veja – 17 de Janeiro de 2001

AP Photo/The Herald-Sun A alemã Dagmar Polzin e a foto de Bobby Harris: paixão à primeira vista e sem futuro

A alemã Dagmar Polzin tomou conhecimento da existência do americano Bobby Lee Harris por meio de um cartaz publicitário da Benetton, daqueles que a grife italiana produz com o objetivo explícito de causar choque e indignação. Harris era mostrado no corredor da morte, esperando pela execução. Ele foi condenado por um crime com requintes de crueldade: em 1991, depois de esfaquear um pescador, o jogou no mar para morrer. O pescador conseguiu nadar até a praia e denunciá-lo antes da morte. Dagmar apaixonou-se perdidamente pela foto do assassino e há quatro meses abandonou seu emprego de garçonete em Hamburgo, na Alemanha, e se mudou para a cidade na costa leste dos Estados Unidos onde Harris está preso. Desde então visita-o uma vez por semana. Ele tem 34 anos, ela 32, namoram separados por um vidro espesso e nunca se tocaram. Sem chance de ser indultado, Harris aguarda permissão do diretor da prisão para se casar nos próximos dias, antes de receber a injeção letal marcada para esta sexta-feira, 19. A história de amor entre Dagmar e Harris está longe de ser um caso isolado. Com espantosa freqüência, presos à espera da execução ou condenados a longas sentenças encontram namoradas e esposas. No mega casamento realizado no ano passado na penitenciária paulista Carandiru, a maior do país, quatro em cada dez noivas começaram o namoro já com o noivo atrás das grades.

O que leva uma mulher a viver um romance em condições tão desfavoráveis? Autor de nove livros sobre relacionamento amoroso, o psiquiatra paulista Eduardo Ferreira-Santos diz que uma característica bem feminina é encarar o amor com a abnegação própria de uma Madre Teresa. “É como a mulher que se casa com um alcoólatra: ela sabe do vício, mas acha que vai fazê-lo parar de beber”, diz. Dagmar faz eco a essa teoria. “Pude ver nos olhos dele, quando observei aquele cartaz da Benetton, que Bobby era inocente”, diz. Assassino confesso, Bobby pode ser qualquer coisa, exceto uma vítima inocente do sistema judicial. A culpa comprovada também não dissuadiu as dezenas de brasileiras que enviaram propostas de casamento a Francisco de Assis Pereira, o “maníaco do parque”, acusado pelo assassinato e estupro de nove mulheres. Neste caso, não se trata apenas de um amor bandido, mas também de um amor de alto risco, visto que Francisco é um psicopata que mata as namoradas.

Francisco de Assis Pereira, o "maníaco do parque": cartas de quem quer salvá-lo com amor 

Os psicólogos há décadas estudam o fascínio que os homens maus exercem sobre certas mulheres. Algumas teorias tentam explicar por que isso é tão comum. Uma delas especula que os deveres da maternidade e as regras sociais condicionaram as mulheres a assumir com maior vigor a obrigação de amparar as ações do companheiro. Elas não apenas estão mais dispostas a enfrentar o mau tempo com seu homem, como ele espera que elas façam exatamente isso. O psiquiatra paulista Moacir Costa, autor do livro A Pílula do Prazer, acrescenta um componente que justificaria a odisseia da alemã Dagmar: a idealização de um amor impossível. “Ela deve acreditar que sua paixão por Harris vai superar até mesmo a morte que o aguarda”, diz. No momento, há 3.700 pessoas no corredor da morte nos Estados Unidos e se nota um acentuado aumento no número de mulheres interessadas nos condenados. A explicação nesse caso é simples: a internet passou a ser uma aliada dos detentos na procura de relações amorosas. O relacionamento rapidamente deixa de ser virtual e as namoradas transformam-se no canal de comunicação do preso com o mundo exterior.

Alguns condenados ficam famosos devido a seus crimes ou como alvos de campanhas contra a pena de morte. Celebridades, como se sabe, atraem o sexo oposto, dentro ou fora da cadeia. “As pessoas querem sair do anonimato e procuram casos de grande repercussão”, diz o psiquiatra Costa. Num episódio bem conhecido nos Estados Unidos, uma produtora de TV chamada Evangeline Grant Redding escreveu ao preso James Briley, em 1984. Ele havia liderado a audaciosa fuga de seis condenados à morte e ela queria fazer um livro sobre a aventura. Cinco meses depois casaram-se numa cela da prisão. Evangeline iniciou então uma mobilização de grande repercussão contra a pena de morte. Foi inútil. Cinco meses após o casamento, Briley foi executado. Evangeline milita até hoje contra a pena capital.

Fonte: VEJA / Vi no O APRENDIZ VERDE

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